Coordenação: Maria Teresa Esteban
O projeto tratou das implicações da realização da Provinha Brasil, incluindo seus resultados, nos processos escolares de alfabetização, considerando os modos de compreensão do ser criança na escola e as propostas de integração das crianças à dinâmica escolar. Indagou a produção, interpretação e uso dos dados e informações obtidos por intermédio da Provinha Brasil, por 4 redes municipais de educação da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (nas quais as escolas se incluem), atuando na articulação da avaliação externa com as práticas escolares cotidianas. O estudo fundamentou-se nas teorias póscolonial e decolonial e na epistemologia do sul para tratar da incessante produção da diferença e da desigualdade que demarca a oposição centro-margem, torna a periferia lugar de negação e naturaliza a subalternidade. Os estudos da sociologia da infância e da filosofia da infância se fizeram presentes na composição de uma reflexão que procurou estabelecer parceria também com as crianças para pensar a alfabetização. A educação popular indicou um horizonte de relações e práticas que inscrevem a ação escolar nos processos de libertação das classes populares e servem como balizadores da qualidade da educação almejada. Para concluir a composição do seu quadro teórico estão os trabalhos no campo da avaliação educacional que assumem uma perspectiva crítica. Articulou-se como pesquisa qualitativa, inscrita nos estudos com o cotidiano, que elege o diálogo como método e se desenvolve em parceria com os diferentes sujeitos envolvidos no processo. Nosso estudo aponta a escassa presença da Provinha Brasil na formulação das políticas públicas municipais para a alfabetização e na reflexão escolar sobre esse processo, embora sua existência tenha reforçado, nas escolas, práticas que priorizam a classificação das crianças e se distanciam de um maior conhecimento das que estão nas escolas e de seus processos de inserção na cultura escrita. Assinala que o modelo de avaliação externa que a conduziu mostrou-se um obstáculo à produção, no cotidiano escolar, de processos mais dialógicos e reflexivos, tanto no que se refere à alfabetização quanto à avaliação. Nossa proximidade com as escolas reforça a potência do diálogo entre a universidade e a escola básica para a produção de conhecimentos necessários à transformação da escola, que sendo pública não responde, ainda, às demandas das classes populares. O trabalho contou com financiamento do CNPq e da FAPERJ.
Autora: Juliana N. Messias Granato
Resumo: Esta dissertação monográfica é uma pesquisa qualitativa que tem como fio condutor uma investigação com o cotidiano escolar. Se desenvolve priorizando como objetivos: acompanhar o processo de alfabetização, incluindo as práticas de avaliação, estudar as concepções e os processos articuladores da educação da infância e as experiências de infância presentes no cotidiano escolar, buscando estabelecer relações entre a compreensão adulta do ser criança e sua intencionalidade na produção do trabalho pedagógico na alfabetização. Priorizou-se a utilização de uma escuta sensível, do diálogo e do registro como procedimentos metodológicos, tendo considerado a possibilidade de pensar o cotidiano como redes de fazeres-saberes tecidas pelos sujeitos cotidianos. Logo, ressalto a importância de se trabalhar/pesquisar “com” ou “junto com”, diferentemente, de se pesquisar pautados na lógica do “sobre” que induz uma diferença e controle, colocando-nos separados desse outro. Compreende-se que os estudos com o cotidiano das escolas se dão em meio às situações encontradas por entre fragmentos das vidas vividas e desabrocham como pistas do que está sendo feito-pensado-falado pelos sujeitos cotidianos. Dessa forma, a partir da discussão das experiências cotidianas, me percebo atravessada por questões efêmeras entorno das vozes, dos barulhos e dos silêncios das crianças que me levaram a refletir acerca da sonoridade na escola enquanto manifestação dos indivíduos e a levantar a seguinte reflexão: “Quanto barulho cabe no silêncio?”. Estas pistas ou indícios colocam em interação dialógica a teoria e a prática e contém informações significativas que permitem o acesso a áreas invisibilizadas e silenciadas. Resgatando a relação prática-teoria-prática, ressalta o caráter prático do trabalho docente, assim como, pensa uma releitura da experiência vivida e busca uma (re)construção dos processos em diálogo com a teoria. Não espera-se que esta pesquisa seja um fim em si mesma, mas pretende-se provocar questionamentos e debater sobre os diversos processos de se caminhar no cotidiano. Vejo que as conclusões de pesquisa enobrecem a visão e a prática, logo, são apontamentos de possibilidades durante o caminho, um agregar na rede de conhecimentos que se constrói.
Autora: Julianna Medina Pinto
Autora: Leticia Roberta G. M. da Silva
Resumo: Este trabalho de conclusão de curso apresenta reflexões sobre práticas pedagógicas tecidas no cotidiano da escola pública com estudantes das classes populares que frequentemente são vistos como apresentando defasagens de aprendizados escolares, especialmente meninos e meninas que se encontram na situação de distorção idade-série, idade-ciclo dentro do sistema de ciclos adotado por Niterói. A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma experiência de práticas pedagógicas no cotidiano escolar articulada com estudos teóricos realizados no Curso de Pedagogia da UFF- Niterói. Foi escolhido como metodologia para realização deste trabalho o campo do cotidiano justamente por nos ser considerado mais apropriado para analisar e refletir a complexidade do trabalho docente dentro de salas de aulas concretas formadas por sujeitos- professoras(es) e alunas(os)- com direitos, desejos e anseios. A proposta deste trabalho não foi suscitar certezas, mas abrir caminhos a discussões acerca da educação pública que necessita ser, sem exceção, de qualidade para todos/as.
Autora: Joana Paula dos Santos G. de Oliveira
Resumo: A presente monografia apresenta brevemente minhas reflexões acerca da relação entre escola e família articulando as questões principais dessa relação à minha experiência como aluna, como mãe e como professora-pesquisadora em formação. Ao assumir a questão como tema de pesquisa percebi que seria preciso problematizar também as relações que são estabelecidas dentro da sala de aula. Desta forma, ressalto os modos como as professoras estabelecem a própria prática pedagógica, e de que forma as crianças das classes populares e suas famílias participam desse processo. Nas salas de aula, nos deparamos com diferentes experiências e realidades, o que nos direciona a uma escuta atenta do que nos dizem esses diferentes sujeitos. Diante de algumas práticas pedagógicas que contribuem para reforçar o fracasso escolar das classes populares, procuro destacar nesse trabalho o que as famílias e estudantes nos apontam como desafios e possibilidades, para assumirmos práticas pedagógicas em uma perspectiva dialógica. Este estudo se articula ao trabalho realizado como bolsista de Iniciação Cientifica no projeto: A reconstrução de práticas de avaliação numa perspectiva emancipatória no cotidiano escolar: a autoavaliação como experiência dialógica, coordenado pela Profª Drª Maria Teresa Esteban. A pesquisa foi realizada na escola Municipal Helena Antipoff, em Niterói- RJ.
Pesquisadora: Joana Paula dos Santos Gomes de Oliveira
Resumo: A presente pesquisa se insere na linha de pesquisa Estudos do Cotidiano da Educação Popular. Traz reflexões acerca do meu trabalho pedagógico com foco no diálogo com as crianças como possibilidade de me orientar na produção de uma prática dialógica (FREIRE,2005) e antirracista (CAVALLEIRO, 2001, GOMES, 2005, MUNANGA, 1999) no cotidiano da Educação Infantil. No processo de investigação a invisibilidade e silenciamento da negritude, do ser negro das crianças das classes populares no processo de escolarização se delineou como problema da pesquisa. O trabalho nasce de interrogações que emergem dos encontros entre a professora pesquisadora e as crianças, com idade entre três e quatro anos matriculadas em um Núcleo Avançado de Educação Infantil pertencente à rede municipal de Niterói- Rio de Janeiro. Como parte desse processo de estudo a pesquisadora elabora a metáfora do cavucar exercendo o papel de Sankofa ao recordar as práticas pedagógicas que atravessam sua formação humana e profissional. O exercício investigativo foi delineado metodologicamente como uma pesquisa com o cotidiano. O diálogo e a escuta são procedimentos que potencializam suas reflexões tecidas por meio da escrevivência como
forma de estilhaçar as máscaras brancas e ecoar as vozes historicamente subalternizadas. A pesquisadora aposta no paradigma indiciário proposto por Ginzburg (1989) para captar pistas, sinais e indícios presentes nas vozes, nos gestos e silêncios das crianças. Utiliza como fontes de estudo e problematização da sua prática as informações contidas nos cadernos de registros do seu fazer, nos relatos de momentos vivenciados com as crianças, nas fotografias e vídeos
das vivências com os pequenos. Algumas aprendizagens do trabalho são: a importância da problematização da própria prática pedagógica para o reconhecimento e fortalecimento da negritude na sua formação como professora pesquisadora negra; a luta por uma educação libertadora anunciada no diálogo com as crianças, a presença de elementos essenciais a uma Educação Popular tecida no espaço público de Educação Infantil; a educação como possibilidade de sair do lugar da dor para o lugar da potência, lugar da vida e alegria presente nas infâncias das crianças negras e não negras de classes populares.
Pesquisadora: Leticia Roberta G. M. da Silva
Resumo: O presente trabalho, inscrito na linha de pesquisa Estudos do Cotidiano da Educação Popular, investigou dinâmicas pedagógicas favoráveis à participação das crianças na alfabetização e na avaliação deste processo, dinâmicas que buscam despertar nelas ainda mais a alegria e o desejo de aprender. Esta pesquisa se estabeleceu a partir de questionamentos sobre a ação da escola no processo de construção do fracasso/sucesso escolar de crianças/estudantes provenientes das classes populares. Tendo como ideias articuladoras para a discussão os termos alfabetização, participação infantil e avaliação democrática, o trabalho se voltou a uma experiência pautada pela compreensão de que a ação pedagógica deva ser coletiva, participativa e dialógica, indagando ser esse um caminho para que se alcance sua questão central. A pesquisa, de natureza qualitativa, desenvolveu-se em uma turma de primeiro ano do ensino fundamental de uma escola pública da rede municipal de educação de Niterói, no ano de 2019. Caracterizou-se como um estudo no campo do cotidiano no qual foi adotado um processo de intervenção pedagógica com a participação das crianças envolvidas, efetivado pela autora da dissertação, em sua própria turma. A investigação orientou-se pela metodologia de sistematização de experiências, apoiando-se na elaboração de um plano de sistematização que, para ser desenvolvido, foram utilizados como fontes de informações: cadernos de planejamentos, relatos de momentos vivenciados considerados pertinentes, fotografias, falas das crianças, comentários a partir de observações realizadas no momento de pesquisa, o projeto de intervenção, dentre outros. Por meio da pesquisa, de suas discussões e reflexões, foi explicitado o processo de formação de uma professora pesquisadora. Algumas das aprendizagens desta pesquisa são: a importância para a formação e atuação docente, o aprender com a própria prática, refletindo criticamente sobre a mesma com a intenção de melhor fazê-la; a importância de construir um trabalho pedagógico junto com as crianças e não para elas, as envolvendo nos seus processos de aprendizagens; a potencialidade da escola pública e dos sujeitos que a praticam na construção e produção de conhecimentos relevantes para a educação; dentre outras aprendizagens que evidenciam a urgente e necessária construção de uma escola pública popular pelos sujeitos que a praticam.
Pesquisador: Leonardo Baptista de Sales da Silva
Resumo: O presente trabalho busca produzir uma cartografia de circuitos de afetos com crianças do I segmento do Ensino Fundamental, de uma escola localizada em uma cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, atento aos usos e produções que elas fazem nesses espaçostempos. O objetivo é buscar compreender os movimentos que elas realizam que podem constituir a tecitura de uma micropolítica naquele cotidiano escolar, para que abram possibilidades de pensar as relações de afeto como relações políticas e suas transformações na escola, bem como no que essas relações produzem. Para tal, dialogo com as bases teóricas e/ou conceituais que vão direcionar o processo de levantamento, organização, produção (discussão, compreensão, problematização, reflexão etc.) do material minha pesquisa apoiada nos estudos com o cotidiano nas noções de tecitura (GARCIA, 2003), espaçostempos (ALVES, 2004), no pesquisar com as crianças das classes populares e não sobre elas (ALVES,2 001). Além desses conceitos, partindo da perspectiva rizomática, busco dialogar com a filosofia da diferença a partir de Deleuze (1995) e com autores que têm estudos na mesma perspectiva, como Gallo (2008), Kroef (2003), Magalhães (2009). Os achados apontam que habitam na escola relações, circuitos de afeto que a tornam um lugar potente, entre outros movimentos a serem considerados e construídos com as classes populares.
Pesquisadora: Raquel Marina da Silva do Nascimento
Resumo: Esta dissertação busca discutir as questões relacionadas aos saberes e fazeres docentes em uma creche pública carioca, as quais partiram das inquietações do meu cotidiano como Professora de Educação Infantil no município do Rio de Janeiro. A pesquisa se insere nos estudos dos cotidianos das classes populares e se desenvolve a partir da perspectiva da produção de conhecimento que emerge da escola pública e se faz num movimento de prática-teoria-prática e pela atuação da professora-pesquisadora na investigação da sua própria prática. O cotidiano mostra-se um espaço-tempo rico, no qual emergem questões complexas que nos ajudam a pensar as práticas na educação infantil. Estão, dentre diversas questões que guiam este estudo: a creche como espaço de educação e cuidado de bebês e crianças pequenas; as múltiplas infâncias que habitam os espaços educativos; as tensões entre o currículo prescrito e o currículo discutido e vivido pelas profissionais que trabalham na creche; a construção de um coletivo que pense e discuta os fazeres cotidianos; a atuação docente na creche e a ação pedagógica com crianças de 0 a 3 anos das classes populares. A complexidade das relações tecidas no cotidiano impele um outro olhar sobre essas relações e as possibilidades de mudança e transformação das práticas. As práticas curriculares não são estanques, se dão em uma rede de significados tecida cotidianamente pelos profissionais da creche e que está relacionada à diversidade de contextos e culturas por eles vividos na articulação entre seus fazeres/saberes e suas subjetividades.
Pesquisadora: Ticyane Madeira Cavalcanti
Resumo: O presente trabalho tem por finalidade apresentar uma pesquisa desenvolvida nos espaços de cuidado e recreação para as crianças que são organizados pela CSP-Conlutas nos locais onde desenvolve suas atividades. Essa Central Sindical e Popular organiza tais espaços como parte suas políticas de gênero, com o intuito de fomentar e/ou consolidar a participação feminina em seus fóruns. Os espaços de cuidado e recreação da Central acontecem em diversos estados e funcionam no período em que são realizadas as atividades, que podem ser de algumas horas até alguns dias. As crianças que os frequentam tem idades variadas, vem de diversos estados e seus responsáveis são do movimento sindical ou popular e tem condição social e econômica diversa. Neste cotidiano, marcado por essas peculiaridades, utilizamos as metodologias próprias dos estudos do cotidiano, combinadas a alguns instrumentos da pesquisa-ação. Tendo o diálogo como a principal ferramenta, a conversa é fundamental no nosso esforço por compreender esse complexo espaço com as pessoas que o organizam, utilizam e por ele transitam. Temos, ainda no curso da pesquisa, o prazer de ver os resultados das nossas conversas reverberarem em ações na Central, em outras organizações políticas e no cotidiano das pessoas que são parte desse trabalho. Neste texto, a história do surgimento da Central, as idéias de algumas mães que encontro nesses espaços e os relatos das experiências vividas com elas e as crianças durante a pesquisa são elementos entrelaçados com outras pesquisas que dissertam sobre as múltiplas temáticas aqui encontradas. Tudo isso é a ponte para pensarmos em quais concepções de infâncias, nós, militantes da CSP-Conlutas acreditamos e o que estamos reproduzindo nos nossos espaços, ao mesmo tempo em que estudamos outras possibilidades político-pedagógicas que ali podemos desenvolver depois desta reflexão.
Pesquisador: Fabiano Soares da Silva
Resumo: O presente estudo busca tecer compreensões sobre as práticas culturais dos sujeitos das clas-ses populares e as relações que se articulam em seus contextos como dimensão educativa. Com esse interesse, o fio norteador dessa reflexão perpassa as interações constituídas no inte-rior dessas práticas e as inter-relações que constituem como entrecruzamentos de saberes e experiências vividas por tal grupo. Nesse aspecto, faço uma opção política de educação na medida em que pauto minha reflexão em uma educação popular na perspectiva de libertação e emancipação. Para isso, busco aqui as contribuições de Paulo Freire, Carlos Rodrigues Bran-dão, Néstor Garcia Canclini, Edwar Said, Milton Santos, entre outros, para apontar os entre-cruzamentos da pesquisa com o cotidiano, o diálogo como colaboração entre experiências e uma pedagogia que perambula nos contextos populares. Em vista disso, me aproximei dos estudos com o cotidiano, para tecer com os sujeitos da pesquisa uma compreensão de que os saberes e práticas culturais assumem funções de aprendizagens e de ressignificações das expe-riências vividas. Dessa maneira, busquei nas experiências de produção de escrita, nas criações literárias, nos espaços de interações pessoais, nos processos de aprendizagens da produção e confecção do livro, pistas que apontam para um movimento de apropriação e expropriação da palavra nas relações afetivas dos grupos e coletivos. Dessa maneira, tais relações afetivas assumem uma dimensão política, colaborando com os sujeitos no reconhecimento de si e na tomada do ato de criar narrativas que historicizam experiências vividas. Por fim, as questões se voltam para pensar as práticas culturais nos contextos populares. Tais práticas delineiam-se na possibilidade de recriar ações libertadoras que se contrapõem à lógica do capital, que reproduz ideias e práticas do imaginário de um mundo sem possibilidades históricas e de pa-peis sociais pré-definidos.
Pesquisadora: Aline Bernar
Resumo: Caminhos percorridos em conversas cotidianas antes da construção desta tese propiciaram a construção de uma dissertação de mestrado. Destas conversas emergiram narrativas que traziam vozes e histórias de mulheres oriundas das classes populares. Esta tese tem seus caminhos constituídos através de narrativas de mulheres pobres, negras e sem escolarização.
Ela intenta mostrar que os caminhos percorridos rumo ao desejo e ao direito de uma escolarização negada constituem experiências tatuadas em vozes femininas. A elaboração narrativa e a construção dessas histórias desafiam narradoras e ouvinte (inclusivamente a pesquisadora) a perceberem que, uma vez exposta, a experiência narrada se encaminha rumo a outras experiências que passam a ser compartilhadas. As narrativas trazidas para a presente tese mostram a inevitável construção de redes entrelaçadas de vozes dentro do mesmo texto na luta necessária e expressiva em prol do direito primordial rumo à emancipação. Dessas narrativas emergem as presenças e ausências, as queixas, os protestos, as denúncias, mas também os sonhos, as lutas, a força e a resistência. É notória, nessas histórias, a persistência dessas mulheres participantes da pesquisa que cientes de sua incompletude, assume-se como tal, na busca e na briga por um horizonte possível de transformação.
Pesquisador: Elder Azevedo
Resumo: A presente pesquisa, desenvolvida numa escola pública localizada em uma comunidade rural, da rede municipal de Paraíba do Sul/RJ, teve por objetivo investigar como a participação popular – das famílias e comunidade – em uma escola pública municipal se organiza e como o
coletivo dialoga com o poder público. Nesse contexto, observam-se as relações entre presença, pertencimento e participação desses sujeitos com a escola pública e como esses sentimentos/relações impactam na organização mais participativa e democrática da escola. Para tal, é preciso compreender o contexto de pertencimento da escola e problematizar as relações famílias-escola e comunidade-escola, articuladas à luta pelo direito à educação na comunidade. As famílias, presentes no cotidiano da escola, buscam participar mais ativamente em suas decisões político-pedagógicas pelo fato de a reconhecerem como parte da comunidade local. As inquietações, os anseios e os desejos das famílias são tomados por mim e transformados em projeto de investigação, realizado com esses sujeitos praticantes (CERTEAU, 2009) no cotidiano da escola. Desse contexto, emerge a necessidade de compreender o enraizamento da colonialidade do poder (QUIJANO, 2005) e do saber (LANDER, 2005) em nossa sociedade e, consequentemente, na escola e nas relações estabelecidas entre os sujeitos, a escola e o sistema de ensino, entre a escola e a comunidade e entre a escola e as famílias, além dos impactos e reconfigurações das minorias subalternizadas nos processos de ressignificação de si e da própria realidade a partir da produção de entrelugares (BHABHA, 2013). Nesse sentido, assumo a pesquisa com o cotidiano (ESTEBAN, 2003; GARCIA, 2003a, 2003b), em articulação com os princípios da pesquisa ação participante (FALS BORDA, 1977), e, tomando as famílias como principais interlocutores, assumo o compromisso ético-político-pedagógico de ouvi-las, reconhecendo seu lugar de fala
desde a sua materialidade de origem. Assim, busco o paradigma da Educação do Campo (ARROYO; CALDART; MOLINA, 2011; FERNANDES; MOLINA, 2004; MOLINA, 2015), a partir do paradigma da Educação Popular (BRANDÃO, 1985; 2006, MEJÍA, 2020), com destaque para a prática dialógica (FREIRE, 2005). O diálogo como um princípio metodológico me levou às rodas de conversas (WARSCHAUER, 2001) em que as inquietações, desejos, questionamentos dos sujeitos apareceram, contribuindo para compreender a necessidade de constituir uma escola popular do/no campo que instrumentalize as crianças e a própria comunidade para interferirem no e com o mundo. Assim, compreendemos que fazer democracia no cotidiano da escola é um processo complexo e que exige o diálogo para que as famílias e comunidade estejam presentes na unidade escolar que sentem como pertencente àquele coletivo, podendo influir nas decisões e rumos da educação que se faz naquele lugar com e para o povo. Daí a possibilidade de uma escola pública democrática, ou seja, com participação popular, na reelaboração do seu projeto.
Pesquisadora: Bruna Fabricante
Resumo: A presente tese apresenta as reflexões tecidas a partir de uma pesquisa de doutoramento, realizada com o cotidiano de duas unidades escolares da rede municipal de Itaboraí/RJ, na qual se objetivou refletir sobre o trabalho pedagógico desenvolvido na pré-escola e no 1o ano do Ensino Fundamental, sobre os modos como as crianças se relacionam com a escola e como o processo de alfabetização atravessa as práticas pedagógicas nesses anos de escolaridade. Para tanto, produziu-se um estudo sobre as relações (aproximações, afastamentos e tensões) entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. O trabalho se constituiu como um exercício investigativo desenhado metodologicamente como uma pesquisa com o cotidiano, tecida em uma perspectiva dialógica, que ressalta a relação sujeito-sujeito, reconhecendo o papel fundamental de seus participantes na constituição e nos encaminhamentos do trabalho. Essa escolha metodológica nos possibilitou viver os desafios de produzir uma pesquisa com as crianças, ao acompanhar as meninas e meninos no processo de travessia de uma etapa para outra. Para compreender como as crianças experimentam a escola, partiu-se dos diálogos, conversas, encontros e produções realizados ao longo da pesquisa. Nesse processo, destacam-se as fotografias produzidas pela turma, por serem imagens que fazem pensar sobre a infância e a escola. Trata-se de um estudo que transita entre a dimensão cronológica da infância, ao ser produzido com crianças, e sua compreensão como condição da “experiência humana” que nos constitui independente da idade. A pesquisa busca contribuir com o movimento de (re)pensar o trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças, destacando a infância enquanto tempo em si e não apenas como vir a ser. Ao problematizar as relações entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, a pesquisa afirma a necessidade de superação da ruptura existente entre essas duas etapas e encontra, na proposta de “educação das infâncias”, uma formulação potente para indicar a compreensão da escolarização como um processo contínuo, no qual a infância tenha centralidade e seja compreendida como dimensão que une as duas etapas, considerando suas especificidades e características. Essa compreensão é posta em diálogo com a ideia de se infantilizar a educação escolar, ao torná-la espaço do estar junto, do fazer junto, do (re)pensar constante, do duvidar, do perguntar. Infantilizar a educação se mostra como possibilidade de dar mais intensidade ao projeto de escola no qual a produção infantil tenha espaço e seja reconhecida como poesia, recheada de estética, ética e política.
Pesquisadora: Ana Cristina Fernandes
Pesquisadora: Ana Lúcia Schilke
Resumo: Participar do espaço escolar é um direito subjetivo de qualquer criança, mas a forma como tal participação ocorre nos instiga a pensar se esta forma de inserção social tem a possibilidade de induzir a agenda política que norteia a ação pedagógica implementada na escola. Problematizar a participação infantil no contexto escolar justifica-se porque historicamente as crianças não eram vistas como sujeitos sociais e de direitos, sendo o reconhecimento da criança como participante ativo da sociedade algo bastante recente. Outra dimensão a ser considerada é que no contexto escolar, muitas vezes, a criança ainda é compreendida como um vir a ser, que precisa ser disciplinada e educada como uma espécie de tábula rasa a ser moldada pelos adultos. Atenta a este contexto, intenciono, na presente tese, problematizar o lugar político que a criança ocupa no cenário educacional, ao investigar, a partir da constituição de representação estudantil em uma unidade escolar pública no município de Niterói, como se dá a participação infantil na escola e seus efeitos sobre esse contexto. Ao investigar os processos de participação estudantil, o estudo interroga as formas mais ou menos potentes desta participação e busca entender seus fundamentos, tomando como referencial teórico e metodológico o estudo do Pensamento Abissal, os Estudos com o Cotidiano, a Sociologia da Infância e o debate sobre as relações opressoras que sustentam uma determinada forma de participação. Durante o percurso da pesquisa no qual reconheço as crianças como parceiras de estudo, coloco em discussão o que significa ser criança e de que elas podem participar. Isso ocorre, pois, no encontro com as crianças ficava, ora implícita, ora explicita, a ideia de (in)capacidade destas de negociar, de influenciar e de codecidir com os adultos sobre a dinâmica escolar. Ao ouvi-las, no contexto do trabalho realizado, foi possível compreender que a sua participação na dinâmica escolar, pelo menos hegemonicamente, ainda é excludente, passiva e relativamente dissociada da possibilidade de intervenção no trabalho desenvolvido na escola. Desta forma, o referido estudo problematiza as relações de poder estabelecidas no interior da escola de maneira a tensionar a dimensão antidialógica que sustenta a relação pedagógica, reconhecendo que o diálogo é caminho a ser trilhado para compartilhar poderes. Assim, ouvir, dialogar e deliberar são elementos necessários para que crianças e adultos, em processos de codecisão, possam vivenciar a participação como alternativa solidária e emancipadora na qual a voz da criança tenha a força de pronunciar o mundo.
Pesquisadora: Fabiana Eckhardt
Resumo: A presente tese apresenta uma pesquisa realizada no curso de Pedagogia de uma universidade privada, na cidade de Petrópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro que tratou da formação de professor@s das classes populares no curso de Pedagogia desta instituição. Procurou compreender como as demandas e as expectativas trazidas pel@s estudantes das classes populares à universidade poderiam contribuir para (re)pensar a formação de professor@s no curso em questão. A reflexão sobre a formação de professor@s das classes populares se faz relevante ao compreender que, de maneira geral, esses sujeitos retornarão à escola como docentes das classes populares. Partindo da questão disparadora e conduzida pelo paradigma indiciário de Carlo Ginzburg, aproximei-me dos Estudos com o cotidiano, para, junto com os sujeitos da pesquisa, construir o caminho teórico-metodológico. Sem definições a priori, o estudo tratou de buscar pistas, indícios e sinais a partir de relatos extraídos de conversas vivenciadas na roda de conversa e de conversas informais, autoavaliação d@s estudantes e trechos transcritos em diário de campo, registrando discussões em aula e no grupo de estudos organizado com os sujeitos da pesquisa. O referencial teórico que dialoga neste trabalho com as experiências dos sujeitos da pesquisa são os estudos decoloniais a partir de Aníbal Quijano com a compreensão da colonialidade do ser, do saber e do poder e a Filosofia da Libertação de Enrique Dussel que apresenta a possibilidade de uma leitura do cotidiano das classes populares amparada em outros fundamentos epistemológicos propondo outras compreensões. As questões produzidas com @s estudantes foram encaminhando a construção da tese que, partindo das experiências desses sujeitos, problematizaram a relação centro-periferia mundial nos apresentada por Dussel para pensarmos tal relação na formação de professor@s, bem como o sujeito periférico como o outro, neste caso, o outro na universidade. Os movimentos realizados pelos sujeitos da pesquisa apresentaram ao curso questões e reflexões que anunciaram o diálogo como um elemento potente nesse processo emergindo nuances de libertação.